Machado de Assis: Desvendando o Gênio Literário
Machado de Assis é uma figura que personifica a grandiosidade da literatura brasileira. Em meio à vastidão de autores que moldaram as letras do país, Assis emerge como um ícone, um mestre da palavra que ultrapassou seu tempo. Vamos então explorar a genialidade literária desse ícone brasileiro, desvendando não apenas sua obra-prima Dom Casmurro, mas também lançando luz sobre outros tesouros literários que enriquecem o legado de Machado de Assis.
Quem foi Machado de Assis
Machado de Assis, nascido em 1839 no Rio de Janeiro, foi um dos mais proeminentes e influentes escritores brasileiros. Cresceu em uma família de origens humildes, enfrentando desafios socioeconômicos significativos, especialmente após a morte prematura de sua mãe quando ainda era criança. Autodidata extraordinário, Assis trabalhou como tipógrafo e jornalista, explorando também sua paixão pelo teatro.
Ao longo de sua carreira, Machado de Assis evoluiu de uma fase inicial com elementos românticos para um estilo mais realista e crítico em suas obras maduras. Fundador da Academia Brasileira de Letras em 1897, ele se tornou seu primeiro presidente, destacando-se como uma figura respeitada na comunidade literária.
Um dos aspectos mais inovadores de sua produção literária foi o uso de heterônimos, criando personagens literários distintos com visões de mundo próprias. Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos são alguns dos heterônimos notáveis que permitiram a Assis explorar uma variedade de perspectivas filosóficas, sociais e psicológicas.
Suas Principais Obras
Com sua maestria literária, Machado de Assis deixou um legado vasto e rico, marcado por obras que ultrapassam as barreiras do tempo. Sendo assim, entre suas principais obras, encontramos verdadeiros tesouros que continuam a encantar leitores ao redor do mundo. Começaremos com as mais representativas.
Dom Casmurro
Publicado em 1899, Dom Casmurro é uma obra-prima da literatura brasileira que permanece como um dos romances mais estudados e debatidos. A narrativa é conduzida por Bento Santiago, apelidado de Dom Casmurro, um homem idoso que revisita seu passado e narra sua vida, suas relações e, mais notavelmente, a dúvida que o atormenta.
Assim, Dom Casmurro é uma obra-prima que se mantém além das fronteiras do tempo. Neste romance, Machado de Assis tece uma trama intrincada que desafia as expectativas do leitor. Isto é, a história de Bentinho, Capitu e a famosa dúvida sobre a traição é mais do que uma narrativa sobre ciúmes. De fato, é uma exploração profunda da psique humana, da natureza efêmera da verdade e da complexidade dos relacionamentos.
Nesse sentido, o cerne da história é a suspeita de traição de sua esposa Capitu. A dúvida, expressa na famosa frase “Capitu, traiu-me?”, tornou-se um dos elementos mais intrigantes e interpretados da literatura brasileira. Machado de Assis utiliza uma narrativa em primeira pessoa para mergulhar profundamente na psique de Dom Casmurro, criando uma atmosfera de ambiguidade que desafia os leitores a questionarem a objetividade da narrativa.
Contudo, a trama não se limita à questão da traição. Mas sim, aborda também temas como ciúmes, sociedade, classe social e as complexidades das relações humanas. A linguagem refinada e a habilidade de Machado de Assis em construir personagens multifacetados contribuem para a complexidade e riqueza desta obra-prima.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
Publicado em 1881, Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma inovação narrativa que rompe com as convenções literárias da época. A história é narrada por Brás Cubas, um defunto que decide contar a história de sua vida após a morte, uma abordagem única e ousada.
Machado de Assis utiliza o realismo e o humor para satirizar a sociedade brasileira do século XIX. Sendo assim, Brás Cubas, como narrador defunto, oferece uma perspectiva sarcástica sobre a hipocrisia, as instituições sociais e as questões filosóficas. O estilo irreverente e a estrutura não linear da narrativa são características marcantes que diferenciam a obra.
Além da experimentação formal, Memórias Póstumas de Brás Cubas aborda também temas profundos como a transitoriedade da vida, as ilusões do poder e a busca por significado. Assim, a figura do narrador defunto possibilita uma reflexão crítica e humorística sobre a condição humana, adicionando camadas de complexidade à trama.
Quincas Borba
Publicado em 1891, este romance é uma continuação espiritual de Memórias Póstumas de Brás Cubas, apresentando o filósofo louco Quincas Borba. Nesse sentido, a obra aprofunda as reflexões sobre a natureza humana, a sociedade e as nuances da condição brasileira da época.
A trama gira em torno de Rubião, um professor interiorano que, após a morte de seu amigo Quincas Borba, herda toda a fortuna do falecido. Quincas Borba é uma figura peculiar que desenvolveu uma filosofia chamada Humanitismo, uma sátira às teorias positivistas da época.
Assim, o Humanitismo, cujo lema é -Ao vencedor as batatas-, reflete a visão de mundo do protagonista, Rubião, à medida que ele vai sendo influenciado pelas ideias extravagantes de Quincas Borba. Dessa forma a obra explora as complexidades da amizade, poder, dinheiro e, mais uma vez, a fragilidade da condição humana.
O livro destaca-se por sua análise penetrante da sociedade carioca do século XIX, revelando as contradições e a hipocrisia presentes na busca incessante pelo sucesso social e pelo enriquecimento. A trama é intrincada e repleta de ironias, apresentando personagens ricamente desenvolvidos que encarnam os dilemas morais e éticos da época.
O Alienista
Publicado em 1882, O Alienista é uma obra singular na bibliografia de Machado de Assis. Este conto, ou novela, demonstra a habilidade do autor em combinar elementos de sátira, humor e crítica social em uma narrativa concisa e envolvente.
A história se desenrola na fictícia cidade de Itaguaí e gira em torno do Dr. Simão Bacamarte, um médico que retorna à sua cidade natal após completar seus estudos na Europa. Inspirado pelos avanços da psiquiatria, Bacamarte decide fundar um hospício em Itaguaí com o intuito de estudar e tratar os distúrbios mentais.
No entanto, a trama toma um rumo intrigante quando o Dr. Bacamarte começa a classificar uma ampla gama de comportamentos como sintomas de insanidade, levando a uma quantidade crescente de internações no hospício. À medida que mais e mais cidadãos são considerados loucos, a cidade se vê às voltas com a inversão da ordem social.
O autor, por meio do humor satírico, questiona as noções convencionais de sanidade e loucura, além de explorar a natureza arbitrária dos sistemas de classificação e poder. Nesse sentido, o protagonista, inicialmente visto como um homem de ciência benevolente, revela-se como um personagem complexo e ambíguo, desafiando as expectativas dos leitores.
Além destas grande obras, outras nem tão populares foram escritas por Machado de Assis. São elas:
Iaiá Garcia
Lançado em 1878, este romance revela a maestria de Machado de Assis ao explorar os conflitos entre as classes sociais no Brasil do século XIX. A história de Iaiá, uma jovem romântica, reflete a complexidade das relações e a crítica social tão característica do autor.
Helena
Publicado em 1876, este romance marca a transição de Machado de Assis para o realismo. Helena aborda temas como a moralidade, a sociedade e as intricadas relações familiares. A narrativa é um reflexo da habilidade do autor em explorar as nuances psicológicas de seus personagens.
Queda que as Mulheres Têm para os Tolos
Esta é uma obra mais curta, mas não menos impactante, escrita em 1861. O conto examina os estereótipos de gênero e as expectativas sociais em relação às mulheres da época, revelando a sagacidade crítica de Machado de Assis.
Principais Curiosidades de Machado de Assis
1- Preconceito racial e Realismo:
Sendo mulato, Machado de Assis enfrentou desafios relacionados ao preconceito racial em sua época. Seu estilo literário evoluiu do romantismo para o realismo, contribuindo para moldar a literatura brasileira.
2- Precursor da Heteronímia:
Machado foi pioneiro na utilização da heteronímia (criação de autores fictícios com personalidades próprias), criando personagens literários distintos. Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos são exemplos notáveis. Essa técnica reflete sua habilidade em explorar perspectivas multifacetadas.
3- Fundador da Academia Brasileira de Letras:
Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras em 1897 e seu primeiro presidente. Sua contribuição para a literatura brasileira é reconhecida através dessa posição de destaque.
4- Casamento Controverso:
Machado casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais, uma mulher analfabeta e 15 anos mais velha, o que era incomum para a época. A relação, apesar das diferenças, influenciou sua visão sobre as mulheres e a sociedade.
5- Jornalismo e Teatro:
Antes de se dedicar à prosa, Machado trabalhou como jornalista e escreveu peças teatrais. Essa diversidade em sua produção inicial contribuiu para sua versatilidade como escritor.
6- Ironia e Humor:
A escrita de Machado de Assis é caracterizada por uma ironia sutil e um humor refinado. Sendo assim, ele frequentemente abordava questões sérias com uma perspectiva satírica, desafiando as convenções literárias de sua época.
7- Previsão da Própria Morte:
Machado de Assis escreveu em um de seus poemas: “Este que desordena e consola / Este que é crônico e é mortal.” Essa autoprofecia sugere uma reflexão profunda sobre a finitude humana.
As obras de Machado de Assis continuam a ser objeto de estudo em escolas e universidades, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Cada página escrita por sua pena sagaz oferece uma riqueza de insights sobre a condição humana, mostrando por que ele é reverenciado como um dos grandes mestres da literatura.